Sinopse: Memórias de uma gueixa é um romance
fascinante, para ser lido de várias maneiras: como u mergulho na tradicional
cultura japonesa, ou um romance sobre sexualidade, e ainda, como uma descrição
minuciosa da alma de uma mulher já apresentada por um homem.
Trecho:
“E de fato o ‘guei’ de
‘gueixa’ significa ‘artes’, de modo que a palavra ‘gueixa’ significa ‘artesã’
ou ‘artista’.”
Essa frase, dita pela protagonista, já demonstra a
complexidade que é ser uma gueixa. Mas ela não é dita no começo, então me deixe
explicar o quão maravilhoso esse livro pode ser.
Primeiro: Um homem escreveu o livro. Arthur Golden conseguiu
expor a alma de uma mulher de uma forma que eu jamais acharia ser possível.
Segundo: Eu sou muito fã de cultura japonesa e Gueixas
sempre foram algo intrigante para mim, pois eu não entendia o motivo de ser uma
ou até mesmo o como.
Eu quis ler esse livro assim que vi a capa. Depois eu
comecei e fiquei intrigada, pois o livro começa com uma “Nota do tradutor”, onde
um homem discursa sobre seu primeiro contato com Gueixas e como ele conheceu Nitta
Sayuri, uma gueixa bem sucedida que se encontrava em Nova York, e como a pediu
para narrar sua história de vida. Ele que ficou tão fascinado com a cultura
japonesa que virou um historiador.
“Por que Sayuri iria
querer que sua história fosse contada? Gueixas não fazem nenhum voto formal de
silêncio, mas sua existência é marcada pela convicção singularmente japonesa de
que o que ocorre de manhã no escritório e o que ocorre à noite atrás de portas
fechadas não têm nenhuma relação entre si, e têm de permanecer para sempre
compartimentados e separados.” – Trecho da nota do tradutor. Pág. 7.
Após essa nota, a história começa, sendo narrada em primeira
pessoa, por Sayuri. É interessante, pois é uma conversa cheia de detalhes sobre
ela mesma, não como gueixa, mas como pessoa. Seu ponto de vista da vida que
teve, do que era e do que se tornou.
O começo do livro, até mais ou menos o capítulo dez, narra a
vida de Chiyo, uma filha de pescador que nada sabia da vida além de sua
cidadezinha de interior. Acompanhamos então a perda da ingenuidade de Chiyo
quando ela vai parar em Kioto, separada da irmã, entrando contra sua vontade em
um mundo que era muito diferente da sua realidade.
“Não nasci nem fui
criada em Kioto. Eu nem nasci em Kioto. Sou filha de um pescador de uma
aldeizinha chamada Yoroido, no Mar do Japão.” Trecho do capítulo um. Pág. 9.
Após uma série de acontecimentos desastrosos, Chiyo decide
se tornar uma gueixa, quando conhece um bondoso homem por quem ela se
deslumbra. Porém, seus erros de infância haviam esgotado suas chances de ser
uma gueixa e só com a ajuda da grande Mameha, e uma aposta, ela consegue voltar
a estudar as artes necessárias para se tornar essa intrigante mulher chamada
Sayuri.
“Eu suportaria
qualquer treinamento, qualquer dureza, por uma oportunidade de atrair outra vez
a atenção de um homem como o Presidente.” Pág.
124.
Para mim, essa parte do livro é a melhor. Mesmo com Sayuri
explicando a todo o momento o que é isso ou aquilo, só quando ela começa, ainda
enquanto Chiyo, a estudar, têm-se a noção do que realmente é ser uma gueixa. Desde
o cabelo e maquiagem até os quimonos. Das regras de educação até sua vida
sexual. Não é que haja erotismo, mas as gueixas têm uma série de episódios que
as guiam à vida adulta, e sexo é uma delas.
A vida que essas mulheres levam é glamorosa por fora e
complicada por dentro. Nenhuma delas escolheu ser gueixa, mas fizeram com que
ganhassem seu espaço nesse mundo. Amor está fora de questão, não que elas não
se apaixonem, mas não devem. Romance é algo cortado fora e isso é o que guia a
jornada da protagonista. Sayuri é obstinada e ao decidir o que quer, nem o
destino que parecia traçado pode contê-la.
Os personagens que rodeiam Chiyo/Sayuri são interessantes. Das
gueixas aos homens que ela entreteve, todos foram importantes no seu
crescimento. Logo que ela chega a Gion, somos apresentados a Hatsumomo, uma
gueixa linda, porém extremamente cruel que se torna um grande obstáculo para
Sayuri quase todo o livro, até ser “derrotada”.
“- Sr. Bekku, pode
levar esse lixo para fora? Eu gostaria de poder sair.” – Hatsumomo quando
vê Chiyo pela primeira vez. Pág. 41.
Abóbora, como Chiyo apelidou, é uma garota em que muito na
sua vida deu errado e luta para ser bem sucedida enquanto gueixa.
“[...] Eu achei um
lugar onde vou passar a vida. Vou trabalhar duro sempre para não ser mandada
embora. Mas é mais fácil eu me jogar de um penhasco do que estragar minhas
chances de ser uma gueixa bem sucedida como Hatsumomo.” Pág. 58.
Porém essa amizade que começou na infância acaba se tornando
uma disputa entre as garotas, devido às condições em que elas vivem.
“Você tirou algo de
mim há muito tempo, Sayuri. Como se sente agora? – disse ela. Suas narinas
estavam infladas, seu rosto consumido pela raiva como um galho queimando. Era como
se o espírito de Hatsumomo tivesse vivido dentro dela em todos estes anos,
libertando-se finalmente.” Pág. 429.
Ainda nas mulheres temos: Mamãe, Titia e Vovó. Essas três
são as donas do Okiya em que as três citadas acima vivem. Em funções
diferentes, todas um dia foram gueixas e agora treinam garotas para que também
sejam. Então temos Mameha, a inimiga de Hatsumomo. As duas têm uma história
longa de intriga, onde Mameha se tornou tão bem sucedida quanto é possível e
causa a inveja feroz de Hatsumomo.
“Imediatamente entendi
por que Hatsumomo chamava Mameha de ‘Srta. Perfeita’. Seu rosto era um oval
perfeito, exatamente como o de uma boneca, tão suave e delicado como uma peça
de porcelana, mesmo sem maquilagem.” Pág.
83.
Finalmente chegamos aos homens, que foram muitos, porém vou
apenas citar os mais importantes: Nobu Toshikazu e Iwamura Ken, conhecido
apenas como Presidente. O primeiro homem é o maior benfeitor de Sayuri,
fascinado por ela, apesar de ser muito calado e irritável. E o Presidente é o
interesse amoroso; é ele que move as decisões dela, desde uma garota à mulher. Essa
história de amor poderia ser menos interessante se não estivéssemos em uma
cultura onde as crenças ditam que você não deve mudar o seu destino. Como uma
gueixa, Sayuri não deve amar, mas isso não a impede de alcançar seu objetivo de
finalmente pertencer ao Presidente. O que estou dizendo não considero Spoiler,
porque a história é muito mais do que todos essas palavras que eu já disse.
Não vou me estender mais, indico muito esse livro, é rico e
fascinante. Eu o amo tanto que já li seis vezes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário aqui!